terça-feira, 8 de maio de 2007

Liberdade para eleger um ditador




Neste dia 25 de Abril, em que se comemora a aclamada “Revolução dos Cravos” de 1974, não poderia deixar de fazer referência a um acontecimento recente e particularmente interessante que me faz pôr em causa a sanidade de muito boa gente.
Refiro-me à eleição de António de Oliveira Salazar no concurso transmitido pela RTP como o “Grande Português” com 41% dos votos. Das cem personalidades a concurso ficaram para trás nomes, como Álvaro Cunhal, líder histórico do PCP, e Aristides de Sousa Mendes, antigo diplomata português, responsável pela fuga de muitos judeus ao regime Nazi, durante a II Guerra Mundial.
Será que os portugueses, descontentes com o sistema governativo vigente, desejam a instituição de um regime autoritário? Digo isto porque, acreditando que o
sistema de votação por telefone estabelecido pelo concurso é credível, não restam dúvidas: o povo português deixou para segundo plano a originalidade dos poetas e os valores humanos tantas vezes evocados por figuras nacionais, como Aristides de Sousa Mendes, preferindo enaltecer o antigo ditador português, «uma pessoa que advogou a pobreza para o país (…), que vivia à luz das candeias (...), sofria de analfabetismo”, citando Odete Santos.
Mas, pensando bem, num aspecto Salazar estava certo! O importante no ensino é aprender a ler e a escrever! Ir para a faculdade? Para quê, se os nossos jovens universitários, dedicados aos estudos e preocupados com o seu futuro, coitados, se esquecem dos seus antepassados?! Lamentável ver muitos deles na televisão a serem entrevistados sem sequer saberem o que foi o 25 de Abril e o que esta data representou para Portugal! Razão tinha Salazar quando dizia que um povo culto seria ingovernável…
Por outro lado, note-se que o problema não começa na universidade, mas sim no ensino secundário, onde a matéria relativa à História de Portugal se encontra nas últimas páginas dos manuais, que os alunos apenas abrem por engano. Há, sem dúvida, falhas nos conteúdos programáticos, que põem em causa a eficácia do sistema de ensino.
É evidente que não podemos exigir a estes jovens que conheçam todos os pormenores relativos ao 25 de Abril de 1974 e que vibrem com esta data da mesma forma que aqueles que a presenciaram.
Todavia, perante a eleição de Salazar começo a questionar-me: julgarão que foi um bom samaritano? Que em vez de se preocupar em equilibrar a balança do país se preocupava com as condições miseráveis em que viviam muitos portugueses? Que em vez de perseguir os que se voltavam contra o regime defendia a liberdade de expressão? Que em vez de promover a desigualdade, concedia direitos iguais a homens e mulheres, independentemente da sua condição social?
Ora, estariam os nossos jovens, habituados a tantas liberdades, preparados para viver num regime autoritário? Não creio.


Nota: Sei que o 25 de Abril já foi há quase um mês, mas deixo-vos aqui uma crónica que, entretanto, tive de fazer para a faculdade.

2 comentários:

  1. gostei do título.... um 20 pa sra. Soares!!!! infelizmente votou-se num ditador.... com tantos e tantos nomes (também) grandes da nossa pátria.... Parece que de um momento para o outro, o assunto "Salazar" deixou de ser tabu... Viva D. Afonso Henriques!!!! bjao!!!

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  2. Cátia,

    a votação não reflectiu apenas um descontentamento para com a actual situação do país; houve gente que votou no salazar por saudosismo, por causa da polémica inicial, quando o concurso não incluiu o seu nome (o que, admitamos, foi vergonhoso; goste-se ou não, Salazar é uma figura incontornável da nossa história), e apenas para ter o gozo de irritar a nossa elite pseudo-intelectual de esquerda - e eu, se tivesse votado, teria votado Salazar apenas e só por este motivo.

    De resto, a partir do momento em que temos três tiranos entre os dez finalistas - Salazar, Marquês de Pombal e Cunhal (não o foi porque não conseguiu) - ficamos a saber tudo sobre a nossa mentalidade.

    Bom texto*

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Comentários do Arco da Velha