Memória

Uma vez que o passado não volta mais, resta-nos apenas a nossa memória, através da qual podemos viajar de olhos fechados ao passado, reviver sentimentos e emoções dos quais apenas restam flash-back.
Quem não se lembra de me criança ter calçado os sapatos de salto alto da mãe ou de ter vestido as calças de fazenda do pai em frente ao espelho do quarto? Quem não se lembra de estar sentado na casa-de-banho a observar a mãe a secar os cabelos molhados após o banho e a maquilhar-se? Ou, por outro lado, quem não se lembra do quão era engraçado ver o pai a barbear-se?
O pai, com a sua postura forte “de quem tem sempre razão”, e a mãe, que nunca se esquecia de nos aconchegar os lençóis e de nos beijar a face na hora de deitar…
Quem não se lembra daquelas férias de Verão em que passou momentos incríveis na praia a fazer castelos de areia, ou no campo a correr com um brilho nos olhos?
Quem não se lembra daquela zanga com o amigo de infância que não quis brincar connosco e que nos virou as costas?
Quem não se lembra daquela repreensão por se ter comportado mal ou por não ter feito os deveres da escola?
Quem não se lembra da primeira desilusão, do momento em que se apercebeu de que os adultos afinal não são aqueles seres tão perfeitos que nós imaginávamos, daquele dia em que nos fizeram chorar compulsivamente agarrados à almofada?
Quem não se lembra daquele ente querido que outrora partiu e que agora apenas permanece nos nossos corações, na nossa memória, e que nos faz olhar as estrelas e recordar cada gesto seu, cada momento que passámos?
Quantas vezes vamos no comboio e nos vêm à memória situações passadas e que ainda hoje nos dizem tanto, que nos fazem sorrir enquanto viajamos sozinhos…
Sem essas memórias será que seríamos quem somos hoje?